Mudar Dá Medo, Mas Ficar Parado Assusta Mais
Vamos ser honestos: a mudança raramente bate à porta com flores e um sorriso. Normalmente, entra de rompante, desarruma a casa emocional e ainda nos deixa sem saber onde deixámos o controlo remoto da estabilidade. Mas a verdade é que a mudança é inevitável. E, mais importante ainda, é essencial para crescermos.
Neste artigo, exploramos porque é que a mudança custa tanto, como a podemos aceitar com mais leveza (e menos ansiedade) e quais são as ferramentas que realmente funcionam para navegar pelas marés do imprevisível. Tudo isto com humor, empatia e algumas verdades desconfortavelmente libertadoras.
1. Porque é que temos tanto medo da mudança?
O nosso cérebro foi desenhado para a sobrevivência, não para a felicidade. As zonas de conforto são seguras, familiares e pouco estimulantes — mas o cérebro adora previsibilidade. A mudança, por sua vez, ativa o sistema de alarme interno: "PERIGO! NÃO SABEMOS O QUE VEM AÍ!".
Exemplo: mudar de emprego pode parecer empolgante... até te lembrares que vais ter de aprender novos sistemas, agradar a novas pessoas e descobrir onde estão as casas de banho.
2. A mudança como parte do crescimento (mesmo quando parece regressão)
Da psicologia clínica vem a ideia de que todo crescimento envolve desconforto. Carl Rogers dizia: "A curiosa paradoxo é que quando me aceito como sou, então posso mudar". A mudança não é um ataque à nossa identidade; é a sua evolução.
Ferramenta:
- Aceitação ativa (do modelo ACT - Terapia de Aceitação e Compromisso):
- Em vez de resistires à mudança, reconhece o desconforto como parte do processo.
- Usa frases como: "Neste momento estou a sentir medo/insegurança/confusão. E isso é normal".
3. Como a resistência à mudança nos sabota
Segundo a Programacão Neurolinguística (PNL), o nosso inconsciente procura sempre manter padrões conhecidos. Por isso, mesmo quando algo é negativo, se for familiar, tende a ser mantido.
Exemplo: quantas vezes já ficaste numa relação ou num emprego que te fazia mal porque "ao menos já conheço os defeitos"?
Ferramenta:
- Reenquadramento (Reframe): pergunta-te: "O que esta mudança me está a tentar mostrar ou ensinar?".
- Depois escreve 3 vantagens potenciais que podem surgir desta nova fase.
4. Emoções em modo montanha-russa? Normal.
A mudança vem quase sempre acompanhada de um buffet emocional: medo, esperança, tristeza, empolgação... tudo ao mesmo tempo.
Ferramenta:
- Roda das Emoções de Plutchik: identifica o que estás realmente a sentir. Nomear a emoção é o primeiro passo para a gerir.
- Usa journaling para dar espaço às emoções sem julgamento. (Sim, mesmo que a emoção seja "apetecia-me fugir para as montanhas com um cão chamado Tobias")
5. Mudança em relações: quando o "nós" muda também
As relações amorosas e de amizade não são estáticas. Crescemos a ritmos diferentes, e isso pode trazer desconexão ou reaproximação.
Exemplo: um amigo torna-se pai e a dinâmica muda. Ou tu inicias terapia e começas a não tolerar conversas tóxicas.
Ferramenta:
- Check-ins emocionais regulares: "Como estamos nós? O que mudou? Do que precisamos agora?"
- Respeitar os ciclos e saber que algumas relações vão ficar pelo caminho — e isso é parte do processo.
6. Mudança na vida profissional: quando a zona de conforto se torna claustrofóbica
Nem sempre mudar de carreira, empreender ou pedir promoção é uma questão de coragem. Às vezes é uma questão de sobrevivência emocional.
Exemplo: sentes-te todos os domingos como se fosses para uma prisão metafórica? Talvez esteja na hora de repensar.
Ferramenta:
- Roda da Vida (Coaching): avalia 8 áreas da tua vida numa escala de 1 a 10. Onde está a insatisfação?
- Define uma ação pequena que possas tomar já para melhorar esse ponto.
7. Como preparar a mente para mudar com mais leveza
Técnicas práticas:
- Visualização positiva: imagina como queres sentir-te depois da mudança.
- Cria rituais de transição: muda algo físico (corte de cabelo, organização da casa) para simbolizar o novo ciclo.
- Reduz o perfeccionismo: mudar não tem de ser perfeito. Tem de ser auténtico.
Conclusão: a mudança é a única constante (e nós temos mais agilidade do que achamos)
Gerir a mudança é uma competência emocional e mental que se treina. Não tem de ser sempre dramático, nem precisa de uma banda sonora melancólica ao fundo. Com as ferramentas certas, o apoio certo e uma boa dose de auto-humor, conseguimos surfar a onda em vez de sermos engolidos por ela.
A vida muda. Tu também. E está tudo bem.
Partilha este artigo com quem está a atravessar mudanças. Pode ser o empurrãozinho que faltava para trocar o medo pela curiosidade.